Eduardo Allgayer Osorio

Agrotóxicos fazem mal à saúde?

Por Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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É comum ouvir que estamos sendo “envenenados” pelo consumo de resíduos dos agrotóxicos presentes nos alimentos. E isso até poderia ter fundamento, já que a maioria dos defensivos aplicados nas lavouras contém substâncias químicas destinadas a eliminar as pragas e as doenças que atacam os cultivos. Contudo, é fato cientificamente comprovado que, usando corretamente os pesticidas, antes dos alimentos chegarem à mesa dos consumidores os resíduos dos produtos aplicados na lavoura já estarão decompostos ou restarão presentes em quantidades muito reduzidas, incapazes de causar danos à saúde.

Leviano seria garantir, com convicção, que todos os alimentos consumidos são completamente seguros quanto à presença de resíduos tóxicos. Problemas podem ocorrer, como a aplicação de defensivos em doses maiores do que as preconizadas, o uso de pesticidas não recomendados para um determinado cultivo ou a inobservância do tempo exigido entre a aplicação do produto e a colheita, podendo tais acontecimentos provocarem a presença de resíduos tóxicos em níveis indesejados. Para monitorar a possível ocorrência desses problemas foi instituído o Plano Nacional de Resíduos, que mede o nível de substâncias tóxicas nos alimentos postos à disposição da população, tendo o último relatório indicado que 90% das amostras coletadas em 37 produtos vegetais analisados estavam em conformidade com os níveis considerados seguros. Aliado a isso, foi instituído em 2018 o programa de rastreabilidade do uso de pesticidas, do plantio até o consumidor, seguindo normas estabelecidas como as de Boas Práticas Agronômicas, classificando os pesticidas em altamente tóxicos (faixa vermelha), moderadamente tóxicos (faixa amarela), pouco tóxicos (faixa azul) ou não tóxicos (faixa verde), para serem trabalhados de acordo com o seu risco potencial.

A aprovação de qualquer pesticida para uso nas lavouras somente ocorre depois de aprovado em rigorosos estudos que lhe garantam a segurança, para a saúde dos aplicadores e dos consumidores e para o meio ambiente. Quanto à saúde, são procedidos testes minuciosos que medem o potencial cancerígeno e mutagênico do princípio ativo em análise, o possível impacto no sistema endócrino e até os efeitos teratogênicos, capazes de promover anomalias congênitas na vida embrionária, seguindo normas alinhadas às regras internacionais, estabelecendo um Limite Máximo de Resíduos (LMR) permitido para consumir sem riscos, que usa um coeficiente de segurança cem vezes maior do que a dose considerada tóxica nos testes feitos.

Bom seria que fosse viável produzir alimentos em larga escala sem necessitar aplicar qualquer pesticida, inclusive para o produtor já que as despesas com a aquisição e a aplicação dos defensivos agrícolas onera em muito o custo de produção.

Segundo a ONU, entre 20% e 40% da produção de alimentos no mundo é perdida pelo ataque de pragas e de doenças, levando a questionar se, em tempos de alto risco à segurança alimentar de uma população global que já atinge os oito bilhões de pessoas, cabe abdicar ao uso dos defensivos químicos nas lavouras. Novos pesticidas, menos tóxicos à saúde e menos agressivos ao meio ambiente vêm sendo pesquisados e seguidamente recomendados. Novas técnicas de controle das doenças, pragas e invasoras estão sendo investigadas, como o uso do controle biológico e outros métodos de proteção das lavouras que dispensem a aplicação de pesticidas, no intuito de reduzir cada vez mais os riscos à saúde e melhor proteger o meio ambiente.​

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